Esgotos e sujeiras aumentam casos de internações
28/02/2013 22:38Fortaleza é a 5ª pior capital com relação ao número de doentes, uma taxa de 166,4 para cada mil habitantes
Era para ser uma doença superada, marca apenas de países extremamente pobres. Mas, as infecções intestinais continuam a atingir e até matar, principalmente crianças e idosos. Termômetro do grau de vulnerabilidade e da falta de saneamento básico, Fortaleza é hoje a 5ª capital com maior número de internações, taxa de 166,4 para cada 100 mil habitantes. Só neste ano, 2.731 casos foram notificados na cidade, média de 45 doentes por dia.
Segundo estudo do Instituto Trata Brasil, 51,7% da população de Fortaleza vivem sem coleta de esgoto e 12,9% não têm água potável Foto: Natinho Rodrigues
Divulgado ontem pelo Instituto Trata Brasil, o estudo inédito "Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População" revela a precariedade das moradia de milhares de fortalezenses, principalmente nas áreas mais pobres.
Gastos com internações em 2011 e 2012, por exemplo, passaram de R$ 128.883 mil. Em Fortaleza, conforme o documento, 51,7% da população vivem sem coleta de esgoto e 12,9% sem contato algum com água potável. Realidade triste, mas comum, corriqueira na vida da dona de casa Aurilene Feitosa Maia. "Meus filhos vivem doentes. A gente mora que nem rato, na sujeira grande. Como ter saúde desse jeito? Só milagre", diz.
As internações, segundo o estudo, acabam sendo reflexo da precariedade do serviço oferecido. Doenças relacionadas a sistemas de água e esgoto inadequados e as deficiências com a higiene causam a morte de milhões de pessoas todos os anos, com prevalência nos países de baixa renda, afirma a pesquisa. Ainda segundo instituto, cerca de 88% das mortes por diarreias no mundo são causadas pelo saneamento inadequado. Destas, aproximadamente 84% são crianças.
Nos países de clima quente, as diarreias ocorrem mais durante a estação chuvosa e, tanto as inundações quanto as secas, aumentam o risco de ocorrência dessas doenças, tais como a cólera, giardíase, infecção por shiguella, febre tifóide, infecção por E. coli, entre outras tantas.
"Ter ou não acesso a uma água de qualidade e um bom sistema de coleta e tratamento de esgotos faz toda a diferença para afastar estas doenças que sobrecarregam o sistema de saúde", aponta o estudo final.
E as taxas de internação por cada 100 mil habitantes em Fortaleza têm se mantido altas, conforme o texto. São elas: 195,1 em 2008, 168,9 em 2009, 186,1 em 2010 e 166,4 em 2011. O estudo contemplou os 100 maiores municípios brasileiros em população no período de três anos.
Em 2012, conforme monitoramento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza, a Capital registrou 13.694 casos de diarreia, uma média de 37 casos por dia, estatística bem maior que os 9.168 em 2011.
Se esse montante pode até assustar, para o atual coordenador da Vigilância Epidemiológica da SMS, Antônio Lima, há ainda grande subnotificação, esse quadro poderia ser ainda maior.
Felizmente, segundo Lima, os casos de óbitos não são mais tão expressivos como em décadas anteriores. Mas, ainda é desafiante ver a população adoecer de infecções que não deveriam mais nem existir. Bastava, segundo ele, uma democratização de acesso aos serviços básicos.
O contágio é fruto também, segundo Lima, de falta de informação e maus hábitos. "Cerca de 80% dos casos de diarreia revelam a ausência de um serviço básico de saneamento", critica.
Segundo a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), os investimentos de 2013 em esgoto serão de R$ 155,2 milhões. Atualmente, conforme a companhia, 53,71% da Capital tem a cobertura do serviço.
SAIBA MAIS
Em relação às taxas de internação divulgadas pelo estudo, Fortaleza perdeu para Teresina (180,6), Maceió
(211,1), João Pessoa (213,1) e Belém (354,8).
Em 2011, 396.048 pessoas foram internadas por diarreia no Brasil. Cerca de 14% destas internações, 54.339 pessoas, ocorreram nas 100 maiores cidades brasileiras
Um total de 138.447 crianças menores de 5 anos foi internado em 2011 por diarreia; 28.594 delas
Nas 100 cidades analisadas, ou seja, 20,7% do total no Brasil. Em 2010, foram 40.439 e em 2009, 37.485
Nas 100 cidades, o número de crianças internadas por diarreia (28.594) representou 53% do total
IVNA GIRÃO
REPÓRTER
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